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A Renovação Carismática Católica que eu acredito!


Ainda criança conheci os grupos de oração da Renovação Carismática Católica. Os grupos eram simples, não havia shows. Eram realizados em uma pequena capela do bairro onde eu morava. Um leigo, sem timidez, nos convidava a rezar e juntos louvávamos, cantávamos e escutávamos uma bela e entusiasmante partilha da Palavra de Deus. Sim, tinha oração em línguas, momentos de silêncio, partilha de sentimentos, moções, testemunhos... Mas tudo se realizava na tranquilidade, sem histerias. Encantava-me a acolhida carinhosa dos dirigentes do grupo. O que, naturalmente, me fazia sentir em casa e entre irmãos. Foi lá que ouvi pela primeira vez que um cristão de verdade caminha com a Bíblia em uma mão e o "jornal" na outra. Foi entre eles que escutei que um cristão não pode ser alienado da realidade, mas deve ser sempre lúcido e atento aos sinais dos tempos; porque Deus nos fala em todas as coisas.


Nos grupos de oração aprendi a amar mais a Palavra, a Eucaristia, Maria, o Papa, a Igreja, a ter uma relação especial com Jesus na potência do Espírito Santo, a crer num Deus misericordioso, próximo e acolhedor. Assim, conheci um Deus que está sempre disposto a amar, curar, renovar, restaurar, transformar a vida de qualquer pessoa. Foi “na Renovação” que comecei a sentir um desejo mais forte de seguir a Jesus mais de perto como padre.


Mais tarde, durante meus primeiros passos na Companhia de Jesus, na cidade de Juiz de Fora, fui enviado pelos superiores a realizar trabalhos em obras sociais da cidade. Outra vez me encontrava com irmãos carismáticos que trabalhavam incansavelmente pelo Reino. Serviam os irmãos de rua, acolhiam, ofereciam banho, acompanhamento, devolviam-lhes dignidade. Anos depois, em João Pessoa, fiz parte da pastoral carcerária. Novamente encontrei irmãos carismáticos, ferrenhos defensores dos direitos dos encarcerados, evangelizadores, profetas do mundo escuro prisional. Visitei outras instituições sociais, fazendas de recuperação. (Vale a pena lembrar que a Renovação nasceu no Brasil exatamente dentro de uma obra social através do companheiro jesuíta Pe. Haroldo Rahm em Campinas/SP). Deste modo, nunca aceitei críticas injustas aos carismáticos. Eu sabia – por minha própria experiência - que não era possível generalizar tais preconceitos.


Mas hoje, confesso que me assusta ver muitas pessoas que se dizem parte desta corrente de graça, nascida na Igreja para trazer o frescor e a alegria do Evangelho, apoiando realidades muito estranhas à sua inspiração inicial. A RCC, que nascia nas mãos de leigos simples e bem intencionados, de repente foi agarrada por alguns padres e leigos tradicionalistas tridentinos, conservadores, moralistas midiáticos e opositores do Vaticano II. O abandono da Renovação, talvez por preconceito, por parte de padres e pastores bem formados da Igreja, foi altamente prejudicial. Muitos políticos de extrema direita se aproveitaram politicamente da RCC e de suas vantagens. Por ser um movimento eclesial de massa, a RCC passou a ser considerada um celeiro para atrair eleitores e alcançar facilmente o poder. Vários são os fatores e situações que trouxeram parte considerável do movimento à esta situação em que está. Mas uma coisa eu digo: nesta renovação carismática eu não acredito!


Eu acredito naquela Renovação Carismática que o ilustre teólogo conciliar Congar celebrou como os ventos novos do Espírito, fruto do Concílio Vaticano II. Acredito naquela corrente de graça que sonhou o Cardeal Suenens que abraçaria toda a Igreja e até morreria como movimento. Eu acredito na experiência carismática que manteve a fé fervorosa e a bondade da dona Odete até o fim de sua vida; que fez a dona Palmira e seu esposo acordarem de madrugada todo santo dia para preparar o café da manhã aos mendigos. Acredito na Renovação Carismática da dona Ozinete que até hoje perambula semanalmente os presídios de João Pessoa, ajudando os presos a rezar e correndo atrás de advogados para defender os direitos deles. Acredito na Renovação Carismática que libera as graças do Céu afim de restaurar a vida humana e que jamais é capaz de ver um ser humano como seu adversário.


Volte às suas origens, Renovação! Seja o que você foi chamada a ser na Igreja: frescor, fervor, radicalidade evangélica e esperança de vida em abundância para todos na potência do Espírito!


Amém!


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